Foi lançado, no dia 28 de Junho de 2021 (2ª feira), as 16H:30, nas Instalações do BCI Private, em Maputo , o sétimo livro de Salim Cripton Valá, intitulado “Economia Globalizada & Paradoxos de Desenvolvimento: Reflexões Inconclusivas”, um livro com 373 páginas e com a chancela da Escolar Editora.
A população mundial continua a aumentar rapidamente, estimando-se que na década 2040 existirão 9 mil milhões de almas. Esses milhares de milhões de pessoas procuram ocupar o seu lugar numa economia mundial cada vez mais ligada através do comércio, finanças, tecnologias, fluxos de produção, migração e redes sociais. A vasta economia global está a crescer rapidamente, com extrema desigualdade na distribuição dos rendimentos, num paradoxo marcado por riqueza fabulosa e pobreza extrema. Para os mais pobres dos pobres, enfrentar os desafios diários da nutrição insuficiente, ausência de cuidados de saúde, alojamentos inseguros e falta de água potável e saneamento é uma questão de vida ou de morte.
Muito dos países mais pobres do mundo, que se localizam em África, América Latina e Sudeste Asiático, foram “pressionados” a adoptar políticas de mercado livre para assim poderem obter dinheiro emprestado pelas organizações financeiras internacionais e os governos dos países ricos. A fragilidade institucional de muitos dos países em desenvolvimento tem propiciado a implementação mecânica das políticas de mercado livre, mesmo se elas não beneficiam directamente a maior parte da população dos países, ou seja, fazem perpetuar a pobreza, não geram empregos, nem reduzem as desigualdades sociais. O mais grave é que as pessoas que mais necessitam de ajudas são aquelas que são pedidas para “apertar o cinto”.
O debate dialéctico entre a economia globalizada e o verdadeiro significado do desenvolvimento tem estado a pender a favor da primeira variável, devido a sua força, influência e ubiquidade. A globalização teve notórias externalidades positivas, tirou muitas pessoas da pobreza, mas persistem muitos paradoxos de desenvolvimento, muitas respostas não dadas, muitas incertezas, riscos e fenómenos imprevisíveis e improváveis, como a COVID-19, que desafiam a nossa imaginação, e deixam arrasados as famílias pobres e atolados os governos dos países pobres.
Essa dicotomia entre uma globalização beneficiando poucos e uma pobreza afectando muitos, está provocando uma crise paradigmática na economia de desenvolvimento e a demandar uma nova base teórica e ferramentas analíticas para enxergar nitidamente a lógica e essência do movimento das placas tectónicas do Ocidente para o Oriente, da Europa Ocidental e América do Norte para a Ásia, como que a anunciar a derrocada do “Consenso de Washington” e a emergência de uma nova ordem económica internacional. Muitas incertezas pairam no ar, e não temos um quadro de referência que ajude a interpretar o actual contexto económico global, repleto de adversidades, riscos e incertezas.
Os programas e iniciativas de ajustamento estrutural, desenvolvimento induzido e combate à pobreza não só não lograram reduzir a dependência externa e o endividamento, nem reforçar a capacidade institucional, diminuir o défice público e equilibrar a balança comercial, muito menos melhoraram a qualidade dos serviços essenciais, promoveram crescimento económico inclusivo, combateram a corrupção e melhoraram a governação. Ou as políticas preconizadas estavam equivocadas ou a forma como foram implementadas deixou muito a desejar, e pelo número de países que não conseguiram fugir da armadilha da pobreza e da privação, é forçoso reconhecer que as “receitas prescritivas” carimbadas no quadro do “Consenso de Washington” não trouxeram, globalmente, resultados positivos.
Há autores, como Carlos Lopes (2020), que advogam que impulsionar a produtividade agrícola continua a ser “a mais evidente porta de entrada para obter a tão desejada transformação estrutural” do continente africano, enfatizando que a aliança entre a agricultura e a industrialização tem como base a necessidade de modernizar e formalizar os sistemas económicos. Na mesma linha de pensamento se posiciona Chang (2014), que refuta o mito de que vivemos numa era pós-industrial, mesmo nos países desenvolvidos como Suíça, Japão, Finlândia, Singapura e Suécia. Nos países em desenvolvimento como Moçambique, é utópico pensar que se possa contornar a industrialização e prosperar com base nos serviços, na economia do conhecimento ou somente no sector agrário.
Na verdade, a maior parte dos serviços apresenta um crescimento lento da produtividade e a maior parte dos serviços com um crescimento elevado da produtividade não podem ser desenvolvidos sem a presença de um sector industrial forte. A aposta na industrialização, a ser dinamizada inicialmente pelas matérias-primas provenientes do sector primário, é determinante não apenas para propulsionar a transformação estrutural, mas igualmente para garantir uma devida integração económica regional e aproveitar as múltiplas oportunidades abertas pela globalização económica.
Passados 456 anos de independência, Moçambique continua a lutar para o alcance da plena prosperidade económica, coesão social e estabilidade política, sendo ainda negativamente afectado pela volatilidade dos preços das mercadorias no mercado internacional, pelos choques externos como as crises económico-financeiras, eventos climáticos extremos, instabilidade e conflitos e crises epidemiológicas como a COVID-19. Promover o desenvolvimento humano, tornar o vírus do empreendedorismo um fenómeno de massas, melhorar o ambiente de negócios, prestar melhores serviços aos cidadãos e implantar infraestruturas económicas mais sofisticadas e resilientes são objectivos económicos estratégicos no presente e para o futuro.
A trajectória a ser seguida implica fazer escolhas difíceis, encetar mudanças profundas na mobilização de receitas internas, acelerar a inclusão financeira e digital, promover a integração comercial, a concorrência e a competitividade, fomentar a transparência e a boa governação e ter estratégias mais resilientes aos choques externos.
A globalização económica vai prosseguir, deixando uma nova pegada especial com o advento da COVID-19 e os seus efeitos. Países como Moçambique não tem como não se ressentir com a passagem deste novo vírus, mas o que vai perdurar por alguns anos são também os outros vírus, que convivem connosco desde a “longa noite colonial” até aos últimos 46 anos de emancipação política, que são a fome, pobreza, desemprego, baixo desenvolvimento humano e desigualdades sociais. Alterar esse cenário requer entender melhor o significado do desenvolvimento e a necessidade de repensar a doutrina de desenvolvimento económico até hoje seguida, potenciando a transformação estrutural da economia, a industrialização e o capital humano.